Quando o sonho para de ser sonho!
Recalculando rota para manter a magia e a sanidade mental
Com menos de 5 anos perseguindo meu sonho eu tenho que admitir: não tenho perfil para empreender! E não é o que você está pensando, as partes burocráticas, documentação legal, planejamento anual, planilha financeira, eu amo tudo isso. Criativa sim, analítica bastante. Mas eu não consigo mais sustentar a ideia de abrir mão da minha rotina de bem estar (quando eu tentei abrir mão a ansiedade e burnout vieram de brinde) para enlouquecer me vendendo na internet, acompanhando algoritmos, métricas, trends, atendendo clientes em várias plataformas, buscando alcançar metas e demandas surreais que supostamente me trarão sucesso!

Além disso, a instabilidade financeira, mesmo com um bom planejamento para os meses de baixa demanda, me dá uma sensação de que não estou me dando a vida que eu mereço. Apesar disso, desde o ano passado fecho um boa quantidade de ensaios todos os meses, e tenho garantido uma renda bem ok. Ainda assim, o planejamento financeiro me perturba quando deito minha cabeça no travesseiro.
Então eu comecei a pensar como deve ser uma vida com mais estabilidade, ainda que um pouco menos emocionante? Será que ela ainda seria minha? Será que eu ainda seria eu se eu não estiver 24/7 dedicada ao meu sonho e a criar? Veio a famosa crise de identidade. Quando eu resolvi perseguir meu sonho, eu reconstrui minha personalidade quase que completamente em torno dele. Quem eu sou além do meu trabalho é algo que ainda se confunde em minha mente às vezes e me deixa perdida.
Dito isso, revisitar outra versão minha, a Mariana formada em Direito, a skin concurseira, é meio que um respiro de alívio que eu não esperava. Ainda desesperador. Mas parece que não me reprimir mais, em uma coisa que eu era tão boa, apesar de não amar tanto assim, é como achar aquela última peça do quebra-cabeça de mil peças que estava perdida embaixo do sofá há alguns meses. É como voltar pra casa.
E isso dá medo porque voltar pra casa significa também reviver alguns traumas de infância (ou nesse caso de juventude). Tenho medo de tentar me encaixar em um padrão que não me pertence mais. De trazer a tona a outra personalidade que eu usava e que eu acabei demonizando. Principalmente pelo fato de ela ter me colocado no armário e convivido com pessoas que só me faziam mal.
Tudo isso volta muito para o meu problema de me definir pelo meu trabalho. A Mariana de Direito e a Mariana Fotógrafa sendo vistas como duas pessoas diferentes. Mas a verdade é que existe uma Mariana só, que vai além de direito, de fotografia, que tem fragmentos da personalidade espalhados por aí, que todo dia se conhece um pouco mais e não quer reprimir mais nada. Mesmo que isso signifique ser muito. E caótica.
Outro motivo pelo qual eu não tenho perfil para empreender é ter me aproximado do mundinho corporativo marketeiro influencer e não aguentar mais um segundo desse papo coach, que diz que não é coach, sobre como você pode mudar a sua vida se fizer x coisa. Sobre como você vai desgastar completamente sua saúde mental mas vale a pena pela possibilidade de tirar uma folga em plena quarta-feira. As vezes eu quero só fazer um trabalho mediano, ter ponto pra bater, folga no fim de semana e um plano de saúde bom sabe.
Isso não significa desistir do meu sonho. Significa tirar o peso do sucesso absoluto dele. Tornar ele mais leve, mais criativo, mais divertido. Fazer mais de uma coisa combina com meu perfil. Uma coisa mediana que me dê estabilidade, uma coisa criativa aonde vou dar meu melhor sem precisar adotar as fórmulas da internet. Apesar de eu estar iniciando um processo a longo prazo (estudar para só então passar em um concurso), eu, pela primeira vez em um bom tempo, estou calma e verdadeiramente otimista com o futuro.
Meu Deus completamente contemplada por esse texto!!!! Eu sou concurseira e artista e essa semana mesmo tava conversando sobre nunca ter pensado na minha carreira artística como a fonte do meu sustento, e sim como realização pessoal, pq não suporto o peso de precisar depender unicamente do meu estado mental/fisico/emocional pra me sustentar, eu quero justamente NÃO precisar mercantilizar meu sonho pra que ele continue vivo, e pra isso eu quero a estabilidade financeira, pra bancar todos os meus outros sonhos. Demorei demais pra chegar nesse entendimento, qd era mais nova eu tiltei muito pq acreditava piamente no lema “vc precisa amar seu trabalho” (n, n precisa, só não pode odiá-lo) e isso me deixou mt fragilizada pra vida, mas hj, aos 32, eu tenho uma clareza mt maior do q eu quero e a possibilidade de ter um contracheque certo todo mês me dá a paz que eu preciso pra viver todo o tanto de vida que eu quero ♥️ boa sorte pra nós, bora dale!
Estou há quase 2 meses tentando empreender com fotografia tb e tenho exatamente os mesmos sentimentos. Embora já esteja no ramo há 10 anos, antes era algo freela que eu escolhia o que queria fazer. É uma linda profissão, mas o peso de viver disso tem me derrubado tb, viver na ponta do lápis é um saco. Ficar fazendo post pra alcançar clientes piorou.
Tb quero algo mediano, ar condicionado, rotina, poder marcar minhas viagens em alguns fds e fotografar em outros.
É isso. :/